6 de jul. de 2011

O velório de meu avô

Na última noite fui a um velório.
Não gosto de velórios. E lógico eu sei que ninguém gosta de ir. Mas meus problemas com velórios são certos protocolos sociais e atitudes um tanto melodramáticas.
Ontem nesse velório meu estado era de contemplação e analise existencial.
A questão é que a morte não me incomoda. Não tenho pavor da morte. E embora seja difícil lidar com a partida de pessoas amadas sei que isso é inevitável. Foi dessa sensação (ou devo dizer característica) que nasceu em mim um respeito e aceitação da morte.
Ontem não chorei. Nenhuma lágrima nasceu. Mas não julgue antes do final dessas palavras. A pessoa em questão era meu avô ( pai de meu pai biológico). Eu não o conheci. Nunca o tinha visto antes de ontem.
O pai biológico conheci no mês de maio desse ano. E estava nos meus planos ir visitar meu avô. Afinal nunca tive avós com quem conviver e imaginava como seria. Será que é verdade que eles são os pais e mães da gente, mas com mel? Nunca irei saber.

Ao receber a ligação com a noticia surgiu a dúvida: - Ir ou não ir ao velório? Afinal nem o conhecia não é? E esses vícios sociais quase na sua totalidade me incomodam. A maioria não nasce na sinceridade ou sentimento. São apenas atos de repetição e atitude em grupo.

Conversando com meu irmão aceitei a carona e fui.

Fiquei mais aliviada em ver que não houve tantos dramas. Deixe-me explicar: Já vi velórios onde pessoas perdem controle, gritam, não querem nem que o defunto seja enterrado, outras se jogam sobre o morto, etc. E em alguns não era realmente a dor da perda que os movia. Mas a oportunidade de atuar perante um público e querer mostrar o quanto eram amorosos e sensíveis. Todavia a época de declarar tanto amor não era para ser quando o dito (a) cujo estava vivo?

Também não quero generalizar. Há exceções. Principalmente casos onde mães perdem os filhos. Porém a maioria das “apresentações sentimentais” que vi em quase 30 anos segue o que chamo de “teatro para o defunto”.

Como contei não houve essas atitudes. Contudo vi uma cena que me pareceu exagerada. Digo “pareceu”, porque a certeza não tenho já que não conheço a garota que a fez. E quiçá fosse sincero. Ela aproximou-se do corpo e largou-lhe um longo beijo nas bochechas. Não sei... Revendo a cena na memória ainda tenho a desconfiança. Parece que se viu e ouviu o estralo do beijo. A emoção? Bom, de repente estivesse bem guardada. Darei a pessoa chance da dúvida.

A outra cena foi desconfortante. Um casal jovem e uma menina de uns 5 anos se aproximam do caixão. O pai empurra levemente a filha em direção ao caixão mandando ela dar um “beijinho” de adeus. A criança instintivamente leva as mãos a sua frente para evitar. O pai insiste e ergue ela nos braços, inclinando a menina a testa do falecido. Mesmo sem entender ou aceitar a garota lhe da um leve beijo.

Seria poético? Seria. Se a garotinha tivesse tido a iniciativa. Mas nos olhos dela se via um misto de medo, desentendimento e uma vontade imensa de ir embora.
Por que razão um pai força a filha tão jovem a fazer isso? A morte para ela já deva ser assustadora. Seus conceitos nem se formaram. Mas lá estava ela beijando um morto por obrigação...

Afora essas duas situações citadas as horas correram sem me chamar atenção. Uma e outra pessoa chorava discretamente. Algumas conversas sussurradas...

E eu observando o que sobrara de meu vô após 83 anos. Perguntas ingênuas passavam na mente. Como ele teria sido? Quais suas manias? Qual teria sido seu ultimo pensamento ao desmaiar sozinho em casa e morrer? Será que era tão boêmio como ouvi falar? Daríamos-nos bem? Teríamos algo em comum?

Meu vô era uma probabilidade. Sim, era uma probabilidade de sentimento, de carinho e de amizade.

A morte sempre me leva a pensar na vida. ( Acho que isso é comum a muita gente). E todas aquelas “frases feitas”, “ teorias repetidas” ganham valor e veracidade quando a gente percebe que adiar algo para amanhã não faz sentido.

Você já deve ter lido que os melhores amores são os não vividos. Isso é real. Afinal o amor não vivido não tem chance de te trair, magoar, decepcionar e nem você a ele. Amor não vivido fica sempre na possibilidade dos sonhos e por seguinte da perfeição.

E como há vários tipos de amor, noto que amar meu avô e ser amada por ele se encaixa perfeitamente no dito.

Meu avô é um amor não vivido. Ficou na imaginação do que poderia ter sido. É estranho e também reconfortante.

Eu não derrubei uma lágrima. E meu coração estava tranqüilo. Gostaria de te-lo conhecido melhor. Mas quis o destino que seguíssemos distantes.

O que me tranqüiliza também é saber que amo intensamente as pessoas. E por mais que algumas me machuquem profundamente não me arrependo de ter tentado.

O propósito da vida é complexo. Mas creio que nele há duas coisas importantes.
Ser feliz. E fazer alguém feliz. E tentar isso o quanto antes na nossa vida. Por que a morte pode estar logo ali na sala de estar...

3 comentários:

  1. Excelente texto...nos faz refletir e analisar "friamente" sobre vida x morte.

    PARABÉNS!


    Marisa Ourique

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  2. achei q tinha tirado os comentarios. ontem desisti.

    "Você já deve ter lido que os melhores amores são os não vividos. Isso é real. Afinal o amor não vivido não tem chance de te trair, magoar, decepcionar e nem você a ele. Amor não vivido fica sempre na possibilidade dos sonhos e por seguinte da perfeição."

    bah pimentinha. Adorei.

    E por favor entra no msn. Tenho novidades.

    l.
    *-*

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  3. Meu bem, eu entro no msn as vezes. Algumas to off. Mas quando tu tiver me chama. Afinal tu tbem entra off.
    Novidades boas?

    :-)

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