9 de set. de 2009

Instantes da alma

Somente nós dois no carro. Nenhum obstáculo a frente. O asfalto estava livre.
Tínhamos saído para passear. Conversar... Creio que ele me convidou por sentir que eu não estava bem.
Eu abri o vidro do carro. O vento era frio...Mas deixei minhas mãos brincarem no ar. As palavras que ele me dizia estavam longe. A música estava longe...Ou seria minha alma que não escutava?
De repente a cena mudava...O carro virava...Parecia virar lentamente. Mas eu já havia passado por isso. E sabia, que o movimento era rápido.
Quando o carro parou olhei para o motorista. Ele havia saído do carro. Caminhado alguns passos. E caído de joelhos. Ele chorava?
Eu permaneci imóvel. O carro estava com as rodas para cima. Girei-me lentamente e apoiei a cabeça contra a porta. Eu sairia facilmente pela janela. Mas fiquei ali...
Se tivesse sido algo grave, poderíamos ter morrido.
Meu pensamento no mesmo instante foi para imagem daquele rapaz com olhar de menino que havia destruído minha alma como o pior dos assassinos...
Onde ele estaria? Com quem...O que fazia?
Tolice gigantesca. Ele me enganou e partiu como quem brinca e depois joga o brinquedo fora porque cansou-se e achou um novo... Eu? Eu estava ali...Brigando comigo mesma...
Rindo da ironia de ainda viver...

Braços me puxam para fora. O homem na minha frente fala muito. Me carrega para longe do carro. Ele parece estar me fazendo perguntas. Balança-me pelos ombros...Chora...
Eu? Eu continuava com meus pensamentos. Como se a minha alma ainda estivesse dentro daquele carro capotado...

Mais pessoas em volta...Da onde elas vieram??
Demorei alguns instantes para voltar... Era difícil abandonar a imagem daqueles olhos de menino assassino...Uma mistura de saudade, amor, dor...

Foi meu amigo que me tirou do carro. Ele olhava-me assustado.
Eu forcei um sorriso. Disse que estava bem. E aos poucos voltei para a realidade do lugar.
Pessoas pararam curiosas. A noite ia ser longa....

Mais tarde em casa...Percebi que os instantes que minha alma pensou que ia morrer foram justamente os instantes em que ela ficou livre. Lamentei apenas ter pensando justo em quem mais me destruiu...
Talvez aí esteja um dos maiores mistérios da vida...

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