17 de mai. de 2011

A velha boneca

Ei...o que você lembra? Quero dizer, qual a lembrança mais antiga que tens? Lá na sua infância?
Outro dia estava revirando umas caixas. Elas estavam no roupeiro há muito tempo. Uma mistura de fotos velhas, bilhetes que colegas de aula mandavam sobre amizade, cartas... Ah, as cartas. Sempre achei algo poético nas cartas.
As cartas guardei. Os bilhetes de colegas também. Alguns bilhetinhos queimei. Assim como umas fotos.
Separei roupas para doar. Calçados. Cobertor.
Dizem que quando fazemos isso queremos mesmo é mudar algo em nossa vida. Talvez seja verdade. Afinal estou por ter uma grande mudança. Mas revirar os roupeiros veio depois de já saber que vou mudar e não contrário.
E lá estava ela. Embaixo do Mickey e da Minnie que numa vida passada e infeliz ganhei. Segurei-a e resolvi sentar na cama. Jogo fora? Guardo mais um pouco?
Seu rosto estava machado. Eu devo ter largado ela perto daquelas canetas de colorir. Sua roupa amarelada. Seus olhos mostravam que os anos não perdoam. Nem mesmo a ela. Tão frágil e tão pequena.
Quando criança ela era para mim como um tesouro. Ah, a docilidade das crianças. Porém era um tesouro que do qual eu não era a guardiã. De fato mal podia tocá-la. E nos raros momentos em que a tinha nas mãos era apenas por rápidos minutos. E então ela voltava para seu baú ( Ou guarda roupa de minha mãe).
Os minutos passaram e eu lá. Parada observando a pequena boneca. Aquelas famosas “ bebezinhas” que toda menina queria ter. E que eu havia ganhado. Não era a top de linha. Isso seria esperar de mais da realidade financeira de meus pais. Mas era linda. Eu, nos meus poucos anos a achava a mais bela.
A larguei na cama. Ainda não podia decidir jogar ela fora ou não. E isso me irritava. Pois minha mente dizia ser algo provinciano. Mas o coração....Ah, esse coração maluco....

Logo após encontrei entre roupas o “Peposo”. Esse ainda mais velho. E o qual pude carregar comigo quando pequena depois de muito insistir. Foi o primeiro brinquedo que havia ganhado. Eu devia ter uns 3 anos quando minha mãe comprou e consigo lembrar dele ainda na embalagem e na loja... O Peposo é marrom ( desbotado, é lógico), e vestia uma roupinha de lã de bebê. Ah sim, roupa que um dia me pertenceu...

Olho os dois brinquedos, que só pela presença me fizeram viajar em lembranças antigas e faço a escolha. O boneco volta para o roupeiro. A bebê vai para sacola de lixo. Já que doar coisas que não esta em ótimo estado não é meu costume.

Organizando as coisas no guarda roupa a mente voa em análises. Sempre fui meio às avessas às outras pessoas. Principalmente comparada com outras meninas. Brincar de boneca não era tão agravável. Essa coisa de “casinha e cozinhar” passou tão rápido que mal lembro das poucas vezes que assim brinquei. Gostava de caminhar pelos trilhos, cuidar de meus gatos, ler e estudar...Conhecer as ruas....
A pergunta nasceu em meu cérebro e a ignorei. Afinal: Será que seria eu diferente, se tivesse acesso àquela pequena boneca que ficava todo tempo trancada?

Creio que não. Mas isso é dedução. Certeza.... Acho que nunca terei.



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