14 de mai. de 2010

Deslocando-me no tempo


Parece loucura. Mas isso tem acontecido muitas vezes comigo.
O passado e o futuro parecem um. E são.
Mas eu pareço estar ao mesmo tempo em vários momentos diferentes.
Não sei porque a freqüência que isso tem acontecido está aumentando.

(1984)
“ Estou num berço. Na minha frente a tv ligada e alguns desenhos. No fundo do pátio minha mãe lava roupa. Queria poder mudar de canal, mas não poderia sair dali. Irrito-me por não ter liberdade de locomoção. De repente a TV cai no chão. Minha mãe entra correndo. E fica olhando a TV caída e a mim. – Quem derrubou a TV, Vivian?- Ela diz com as mãos na cintura e olhar curioso. Eu digo que não fui eu. Ela caiu sozinha.
Foi a primeira vez que assustei minha mãe.”

(1986)
“Meu pai chega tarde do trabalho. Pelo menos duas horas depois do que deveria. Havia bebido. Me alcança uma bala de menta. – Peguei no bolicho para ti- Ele diz. Minha mãe está triste. Ela é tão triste...
Saio da cozinha, quando volto estão discutindo. Grito algo para meu pai. Ele grita comigo de volta. Minha mãe está perto da mesa. Sentada e chorando. Não pude fazer nada por ela. Saí dali. Choro sozinha.”

(1987)
“ Vou até o tanque onde minha mãe está. Está cheia de trouxas de roupas para serem lavadas. É muito frio. Fico olhando as mãos dela em contato com a água gelada. Meus pensamentos voam entra a força daquela mulher e ao mesmo tempo sua fragilidade. Nunca saiu da minha cabeça as lágrimas que a vi derrubar. Nenhuma delas.”

(1989)
“ Minha irmã mais velha estava grávida. Vai para o hospital. Na volta tem em seus braços sua filha. Nunca esqueci os olhos lindos da Veri.”

( 1988)
“ Pré-escola. A professora Luciana manda que desenhamos no quadro um rosto que representasse nosso humor. Coloquei o triste. Ela mudou. Embora gostasse dela, nunca gostei da atitude dela. Se engana, mas não se muda na alma o que sentimos.”

( 1989)
“Primeiro ano. Escola Alceu Carvalho. Na época pequena. Mas ao meus olhos era enorme. Uma menina debocha da simplicidade das minhas roupas. Eu saio dali e fico sentada longe de todos até o intervalo terminar.”

(1990) “ Aula de religião na escola. Nunca aceitei imposição de crença nenhuma. Começo a discutir o porquê de ensinar o Catolicismo nas escolas.”

(1993)

“ Empresto minhas canetinhas coloridas para uma professora. Minha mãe briga muito comigo por isso. - Não se deve emprestar as tuas coisas. Será que fariam isso por ti? – Ela diz furiosa.

(1994)
“Mudo de escola. No início não gostei. Sempre gostei do controle sobre situações. E na escola anterior eu conhecia cada lugar. Ali era tudo estranho. E as alunas arrogantes de mais. Isso muda com o tempo. “

(1998) “ Ele diz: Me encontra na esquina após a aula. Tenho um presente pra você. Ele me da uma blusa preta e uma branca. E escreve no meu caderno uma frase que seu pai dizia: As más companhias corrompem os bons costumes. Ainda tenho o escrito.”

(1999)
"Finalmente o último ano. Com tudo que havia passado já não pensava na faculdade. De alguma forma eu queria simplesmente suportar o que houve. Sobreviver. E sobrevivi. Mais forte."

(2000)
"Passo a trabalhar. No início muito ingênua. Depois vejo a realidade de cada um que convivia comigo."

(2001)
" Ele liga a cobrar para minha casa. E desliga. Tinha medo de falar. "

(2002)
" A tia dele me dá de presente uma pedra linda e brilhante. Um dia mudei-me e alguém a roubou.

(2003)
" Discussões por causa do meu trabalho. Insegurança da parte dele. "

(2004)
" Brincava nas águas do rio. Sentia-me leve. Ficaria ali por muito tempo se alguém não me chamasse."

(2005)
" Porto Alegre não dorme. Isso me agrada. Eu quase não durmo também."

(2006)

" Palavras doces deixadas num papel sobre minha mesa. E um bolo feito de caixinha..."


(2007)
“Eu abria a porta, e via ele entrar. Sempre altivo. Um tipo de arrogância camuflada com humildade. Abria o pacote que trazia. Uma calça. E branca. Experimentei e ficou legal. Apesar da cor não ser minha favorita.”

(2008)
“Eu entrei em casa. Sentei no sofá. Peguei um caderno e comecei a escrever. Ouvi passos no pátio. Bateram na porta. Mil desculpas esfarrapadas sendo ditas...”

(2008)
“Ele entra em meu apartamento com meus amigos. Somos apresentados. Tem sotaque puxado. No dia seguinte conversamos. Ele me diz: “ você não lembra de mim”.
Eu sorri. Afinal poderia algo ser dito naquele momento?

(2009)
“Uma viagem. Um conto mal feito.
No sábado pela manhã, minha amiga subia as escadas do apartamento para me alcançar um pacote de ração de gato que haviam deixado no portão logo cedo. Na semana seguinte todo o veneno vem a tona.”

(2010)
“Um computador para ser formatado. Ele meigo e risonho sentado no sofá. Reclamando que tinha pouca vodka no copo. Um beijo suave. "
(2010)
"Estou em Umbu. A água é morna. Agradável. O céu lindo. E ele ao meu lado torna tudo tão calmo."
(...)

2 comentários:

  1. dá pra sentir só de ler o tanto que sua vida foi sofrida. fiquei triste por isso. e feliz tambám por ver que tudo isso te transformou em uma pessoa especial: essa que vc é hoje! fico feliz em ter "esbarrado" com vc nesse mundo virtual! beijocas sempre vivi!

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  2. minha naniquinha, o bom éh q tu esta aki c/ a gente.

    **

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