20 de abr. de 2010

Sussurra na noite e bate na porta

Não tinha mais como escrever já que estava sem computador. Sua caligrafia estava péssima por ter perdido o hábito da escrita manual e se acostumado com as teclas. Há alguns dias pensou em comprar um caderno de caligrafia. Sempre ficava no pensamento. As ocupações diárias a faziam esquecer de tal propósito.
Era tarde, mas o sono não vinha. Já devia ter se acostumado com a insônia, entretanto lera em algum lugar que precisava dormir bem a noite. Seu organismo que não aceitava tão bem tal ideia. Preferia sempre dormir durante o dia.
Uma vez lhe chamaram vampira. Só por que ela preferia a escuridão e as estrelas. Pelo menos ela achava que era somente por esta razão. Comparação tola essa. Ela detestava vampiros. Ao menos detestaria e provavelmente mataria alguns caso lhe cruzassem o caminho. Aliás caso fossem reais.
Saiu do quarto com esses pensamentos soltos. Foi até a cozinha acompanhada pelas gatas. "Querem ração" pensou...Serviu-as. Acendeu um cigarro e sentou na sala. Sem luz. Apenas alguma claridade que vinha por baixo da porta principal e o brilho do cigarro de um lado ao outro cada vez que ia na direção do cinzeiro.
Levantou-se e dirigiu-se a cozinha novamente. Serviu um copo de vodka. Um copo bonito até. Vermelho. Mas um vermelho escuro, como ela gostava. Mesmo sendo de plástico tinha até um certo charme. Era brinde. Tinha vindo com uma garrafa de martini. Que ela comprara mas não bebera. Não gostava de martini. Vodka combinava mais com ela. Com os sentimentos intensos da alma. E com as feridas abertas que tinha. E o principal: era mais barata. Martini além de ser mais caro passava um certo ar superior. Burguês. Definitivamente ela não gostava de martini.
Sentou-se na sala escura.
Acendeu outro cigarro no que terminava. Apoiou a cabeça no sofá. Fechou os olhos. Podia ouvir sua respiração...Um silêncio. Ou quase. Distante o som de um carro ou alguém na rua.
- Acorde!
Abriu os olhos rapidamente. Quem disse isso? Sorriu quando deduziu que devia ter cochilado alguns segundos e estava sonhando. Um gole de vodka e:
- Acorde!
Caminhou pela pequena sala de estar. Chegou até a porta mas não a abriu. Ficou ali parada. Começou a crer que sonhava. Era mais um daqueles sonhos conscientes que a deixavam maluca. Foi até o quarto. Voltou na cozinha....Ao entrar na sala sentou no sofá esperando que iria acordar. Olhos fechados.
- Acorde!
A voz era mais próxima. Levantou e deu alguns saltos. Na volta seus pés continuavam no chão. É...Não sonhava...O que era pior. Estaria ficando louca. É bem provável. Tantos problemas em sua volta. Poucas soluções... Tudo indicava que estava desenvolvendo um tipo de maluquice. E ouvir vozes não era nada agradável.
- Acorde!
Virou-se e não havia ninguém. Mas pode sentir um calor de um hálito. Um perfume amadeirado.
"A loucura está adiantada"..."Já sentindo presenças"...Riu alto. E foi pegar mais uma vodka.
Com a garrafa na mão ouviu o som vindo da direção da porta principal:
- Não tema. Não fuja.
Foi até lá. Abriu a porta calmamente. Ninguém. O portão permanecia chaveado. No degrau um pequeno pedaço de papel que dizia em letra muito bela: - Acorde e não fuja. A realidade pode bater a sua porta.

" Quem foi o desocupado que iria até sua casa aquela hora da manhã fazer uma brincadeira tão idiota"?

Queimou o papel aos poucos com um cigarro que tinha nas mãos. Viu as letras serem consumidas pelo fogo calmamente...

Já no seu quarto deitava aliviada. Embora ainda sem sono, estava satisfeita por ainda não ser louca...."Ainda..."

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