1 de set. de 2010

Ás vezes Nunca

ÀS VEZES NUNCA
(Gessinger)

Tô sempre escrevendo cartas que nunca vou mandar:
pra amores secretos, revistas semanais e deputados federais.
Às vezes, nunca sei se "AS VEZES" leva crase;
às vezes, nunca sei em que ponto acaba a frase (.,;?!...)
Você sempre soube (eu não sabia),
toda frase acaba num riso de auto-ironia.
Você sempre soube (eu não sabia),
toda tarde acaba com melancolia...
E, se eu escrevesse "CEM" com "S", ou escrevesse "SEM" com "C"?
Por acaso, faria alguma diferença?
Que diferença faria?
O que você faria no meu lugar,
se tivesse pr'aonde ir e não tivesse que esperar?
O que você faria se estivesse no meu lugar,
se tivesse que fugir e não pudesse escapar?
Você sempre soube que eu não conseguiria,
quando a frase acaba tarde, tudo fica pr'outro dia...
Você sempre soube, eu não sabia:
toda tarde acaba em melancolia!
Às vezes, não entendo minha própria letra,
minha própria caneta me trai.
Às vezes, não entendo o que você quer dizer quando fica calada...
Você sempre soube (eu não sabia),
quando a frase acaba o mundo silencia!
Às vezes, não entendo onde você quer chegar quando fica parada.
É como ficar esperando cartas que nunca vão chegar,
não vão chegar com "X" nem vão chegar com "CH".
É como ficar esperando horas que custam a passar,
enquanto ficamos parados, andando pra lá e pra cá...
É como ficar desesperado de tanto esperar,
olhando pela janela até onde a vista alcançar;
é como ficar esperando cartas que nunca vão chegar!
É como ficar relendo velhas cartas até a vista cansar...

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